13. Estratégias de atuação adotadas para a condução dos projetos sociais
Em 2020, enquanto 54% das empresas realizaram os seus investimentos sociais por meio de terceiros, 77% dos institutos se envolveram diretamente na execução dos seus projetos. É interessante observar que houve uma modificação na atuação das empresas, especificamente. Diferentemente das três últimas edições da pesquisa BISC, em 2020 cresceu o percentual de empresas que adotam, ao mesmo tempo, uma postura de terceirização da execução de algumas ações sociais e internalização da execução de outras. De toda a forma, se faz necessário investigar, em próximas edições, se esse movimento se deu pela (I) condição excepcional de mobilização das estruturas internas das empresas para ações sociais de enfrentamento à COVID-19 e/ou (II) tal resultado é fruto da intensificação do movimento ESG nas corporações.
14. Recursos investidos, por modalidade de atuação
Ainda que se faça necessário investigar, com a Rede BISC, os impactos do movimento ESG no que se refere a terceirização (e, portanto, fomento a outras organizações) dos investimentos sociais, outras pesquisas* já indicam que foi intensificada a cobrança da sociedade junto as corporações para que elas se posicionem socialmente e operacionalizem ações concretas neste sentido, particularmente com a significativa relevância conquistada pela temática ESG. Assim, o financiamento de projetos próprios com execução de terceiros, aumentou consideravelmente em 2020 – 77% dos recursos alocadas pelas empresas orientaram-se desta forma (em 2018, por exemplo, esse percentual era de 11%).
Na edição anterior da pesquisa BISC, onde se investigou o investimento social corporativo na mitigação dos efeitos negativos da pandemia, ficou claro o posicionamento das empresas e institutos/ fundações empresariais no fomento à organizações da sociedade civil que atuam na ponta, ou seja, em contato direto com beneficiários de ações sociais, particularmente pelo conhecimento, tecnologia social e habilidades interacionais/ de escuta com as comunidades pobres, mais impactadas pela COVID-19.
* BOFINGER, Yannik; HEYDEN, Kim J .; ROCK, Björn. Responsabilidade social corporativa e eficiência de mercado: evidências de medidas ESG e de avaliação incorreta. Journal of Banking & Finance , p. 106322, 2021.
*CONE. PORTER NOVELLI. How to build deeper bonds, amplify your message and expand the consumer base. 2019.
15. Relações das empresas com as organizações sem fins lucrativos
A sociedade civil organizada ganhou espaço, em 2020, junto à agenda social corporativa, conforme apontado nos dois tópicos anteriores. E isso também se manifesta no número de organizações privadas sem fins lucrativos que foram envolvidas pelas empresas e institutos/ fundações empresariais na realização de seus investimentos sociais – 2.056* organizações, número 3 vezes superior ao visto em 2019.
Do total de investimentos sociais de 2020, 38% foram repassados diretamente às organizações sem fins lucrativos – cerca de R$ 1,9 bilhões – valor inédito na série histórica da pesquisa BISC. Os valores de repasse têm, ao longo dos últimos anos, mudado de perfil. Valores de até R$ 40.000 vinham ganhando espaço junto a Rede BISC, apresentando crescimento contínuo e, em 2019, congregavam mais da metade dos recursos repassados. Contudo, em 2020 há uma mudança considerável no perfil e valores intermediários – de R$ 40 mil a R$ 140 mil – ganham espaço, aumentando 20 p.p. em 2020, em relação a 2019. De maneira correlata, também ganha espaço valores altos (mais de R$ 140 mil), que apresentaram crescimento de 11 p.p. no último ano, em relação a 2019. Vale investigar em edições futuras o quanto desta mudança pode ser atribuída às características de atuação emergencial durante a pandemia
* Os resultados referentes ao número de organizações apoiadas e aos valores transferidos podem estar subestimados uma vez que nem todas as empresas forneceram tais informações.
16. Alinhamento dos investimentos sociais aos negócios: expectativas de retorno
Desde o início da última década o BISC acompanha o movimento dos investimentos sociais alinhados aos negócios. Observou-se o crescente posicionamento das empresas nesse sentido e, pode-se dizer que 2020 trouxe a consolidação do processo de alinhamento dos investimentos sociais aos negócios, ressaltando a preocupação do grupo em definir sua pauta de atuação em sintonia com os propósitos de seus stakeholders.
Tanto em 2017, quanto nesse último ano, o BISC levantou qual a expectativa das empresas em relação ao retorno do alinhamento dos investimentos sociais aos negócios. Tendo em vista a intensidade do movimento, não surpreende que cresceu a expectativa por retornos operacionais (7 p.p.), fortalecimento da imagem da empresa (crescimento de 13 p.p., somando expectativas altas e muito altas) e o reconhecimento público (crescimento de 25 p.p, somando expectativas muito altas e altas).
Pode-se constar, também, que hoje já não se espera tão intensamente, enquanto retorno, por impacto nas vendas (a expectativa baixa cresceu 10 p.p. e nenhuma empresa acusou expectativa muito alta ou alta), mitigação de riscos (uma vez que somando expectativa muito alta e alta, houve uma queda de 28 p.p.) e fidelidade dos consumidores (queda de 9 p.p., somando expectativas muito altas e altas).
OBS: parte 1
OBS: parte 2
17. Alinhamento dos investimentos sociais nas políticas públicas: caminhos para a incidência
A pandemia revelou o esforço de aprofundamento das empresas em pautas de e com interesse público, alinhando seus investimentos sociais a políticas públicas já instituídas. Nesse sentido, questionou-se a Rede BISC sobre as prioridades para influenciar políticas públicas nos próximos dois anos (2022 e 2023). Dentre as estratégias, destaca-se a participação indireta por meio do apoio e fortalecimento de organizações sociais ou das comunidades para que elas influenciem as políticas públicas (56% da Rede BISC prioriza grandemente essa estratégia).
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