V. O FOCO DOS INVESTIMENTOS SOCIAIS CORPORATIVOS

18. Grupos da população beneficiados

Em 2020 há uma expressiva mudança dos beneficiários do investimento social corporativo. Ganharam destaque grupos que até então estavam aglutinados enquanto “outros”, dado o baixíssimo volume de recursos, e tornaram-se público-alvo dos ISC – particularmente junto aos institutos. Pequenos empreendedores, mulheres negras, migrantes e refugiados, trabalhadores cooperativados e informais, além de pessoas sem teto/ em situação de rua e, também, artesãos urbanos configuraram enquanto públicos específicos que foram contemplados com recursos de investimento social privado.

Ainda que, em diversos casos, alguns destes grupos acabavam contemplados a partir de grupos maiores (“mulheres negras” enquanto “mulheres e meninas” e/ou “afrodescendentes”, por exemplo), no último ano receberam atenção específica. O que pode ser atribuído ao aprofundamento de mazelas e desigualdades sistêmicas da sociedade brasileira intensificado na pandemia, impactando mais diretamente grupos já muito vulneráveis.

À exemplo, segundo a Rede de Pesquisa Solidária*, as mulheres negras tinham e têm maior chance de morrer em decorrência da COVID-19, do que outros grupos (a partir do recorte de raça e gênero). A partir da análise histórica dos dados e das entrevistas em profundidade com a Rede BISC, é possível inferir que houve, por parte do ISC, um olhar atento a este aprofundamento de desigualdades e uma tentativa, em alguma medida, de corroborar com a mitigação dos impactos negativos, mais sentidos por essas populações mais vulneráveis.

*A Rede de Pesquisa Solidária é um grupo interdisciplinar, composto por mais de 40 pesquisadores das principais universidades e órgãos de pesquisa do Brasil. O comitê de coordenação é composto por Cebrap, o Observatório da Inovação, o Nicbr e o Incor. Resultados disponíveis em: < https://jornal.usp.br/ciencias/mulheres-negras-tem-maior-mortalidade-por-covid-19-do-que-restante-da-populacao/>.

 

19. Distribuição dos investimentos sociais privados na Rede BISC por área de atuação

Tendo em vista o cenário pandêmico e a forte mobilização do setor privado, naturalmente a área da saúde congregou o maior volume de recursos, apresentando um crescimento de 41 p.p. em relação a 2019. Merece destaque, também, o aumento percentual de 4 p.p. na área da assistência social, o que representa uma alocação de recursos superior a R$ 200 milhões.

Ainda assim, deve-se atentar para o fato que outras áreas mantiveram o volume de recursos tradicionalmente recebidos  – o que ocorreu foi a alocação, sem precedentes, de investimentos na área de saúde. À exemplo, o gráfico abaixo é usado anualmente pelo BISC e apresenta a evolução dos investimento sociais nas áreas de educação e cultura. Em 2020 a saúde, que foi inserida enquanto variável no gráfico abaixo,   recebeu 22 vezes mais recursos do que no ano anterior.

 

20. Distribuição dos investimentos sociais privados nas empresas e nos institutos/fundações por área de atuação

As empresas e institutos/ fundações que compõe a Rede BISC apresentaram comportamentos distintos na mobilização de seus investimentos sociais, por área de atuação. Nas empresas, a área dominante na recepção de investimentos foi a saúde (57%) e assistência social (7%). Já a cultura não só ocupou menor espaço percentual, enquanto área de destinação do investimento social corporativo, como apresentou queda real de 12% no volume de recursos (R$ 437 milhões), quando comparada com 2019 (R$ 499 milhões, em valores reajustados pelo IPCA).

Por área de atuação, como se distribuem os investimentos sociais nas EMPRESAS?

Já nos institutos, ainda que tenha existido a alocação significativa de recursos na saúde – um aumento em 2020 de 15 p.p em relação a 2019 –, pode-se dizer que esta agenda recebeu recursos extras, uma vez que a maior parte das áreas que recebem recursos mais significativos pelos institutos/ fundações, permaneceram razoavelmente inalteradas, quando comparadas com 2019. Ou seja, na educação (por exemplo) mesmo com a queda percentual apresentada no todo da distribuição de recursos, o volume financeiro manteve-se na mesma linha.

Por área de atuação, como se distribuem os investimentos sociais nos INSTITUTOS E FUNDAÇÕES?

21. Áreas mais impactadas com mudanças na forma de operação para enfrentamento à COVID-19

Nesta edição, a pesquisa buscou identificar os reflexos da crise de COVID-19 nas diversas áreas de atuação social das empresas e seus institutos/ fundações. A intenção era vislumbrar as iniciativas das organizações que apenas se (I) adaptaram às restrições impostas pela COVID-19 e aqueles que tinham (II) o objetivo de realmente enfrentar a COVID-19.  A área que mais sofreu ressignificações foi arte e cultura, seguida por educação. Ambas as áreas têm como forte componente ações desenvolvidas presencialmente.

 

22. Áreas mais impactadas com a introdução de novas iniciativas para enfrentamento à COVID-19

De maneira oposta, novas iniciativas foram desenvolvidas em áreas que não são, historicamente, prioridade ao investimento social corporativo – saúde (92%), alimentação e nutrição (58%) e comunicação (75%). Esta última foi operacionalizada em campanhas capazes de promover conscientização junto à população em geral e, particularmente, em comunidades onde os negócios incidem, sobre os efeitos da COVID-19, práticas de mitigação etc. Em suma, novas ações foram desenvolvidas em áreas emergentes e prioritárias para a manutenção da vida das populações.

 

23.Volume de recursos por região

As demandas de cada localidade distintas, em alguns casos, e parecidas em outros. Portanto cabe ao investimento social privado, detentor de tecnologia social e recursos, se atentar a essas demandas e, de alguma forma, dialogar com cada uma delas. Não surpreende, portanto, que os recursos alocados pela Rede BISC em “diversas regiões” continuaram nos mesmos patamares percentuais. Porém, este dado merece cautela, na medida em que também reflete a dificuldade enfrentada pelas empresas para desagregar tais informações, especialmente quando se trata de projetos que têm uma abrangência nacional.

Também merece destaque que no ano pandêmico, a região com maior incidência populacional, o Sudeste, tenha recebido recursos extras– um crescimento de 14 p.p. em relação a 2019. Diferentemente, o Nordeste, segunda mais populosa, apresentou no todo uma participação menor (queda 13 p.p) em 2020, em relação a 2019. 

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