Na Mídia – O papel da saúde no investimento social das empresas

Confira o artigo escrito pela Diretora de Gestão e Investimento Social da Comunitas, Patricia Loyola, e pelo Coordenador do BISC, João de Moraes, acerca da importância da saúde no investimento social corporativo, publicado no Valor Econômico

Crédito da Imagem: Agência Brasil

A saúde se tornou uma das áreas sociais que mais recebem investimentos do setor empresarial nos últimos anos. De acordo com o Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), pesquisa realizada anualmente pela Comunitas junto a 182 empresas e 11 institutos e fundações empresariais, o volume de Investimento Social Corporativo (ISC) para a Saúde aumentou cerca de 440% entre os cinco últimos levantamentos.

A pandemia canalizou para a temática uma grande mobilização de empresas e um volume singular de recursos voluntários. Em 2020, os investimentos sociais à saúde ultrapassaram R$ 2 bilhões, representando quase 50% do investimento total e um inédito protagonismo deste campo entre as principais áreas sociais investidas, segundo o BISC. Nos anos seguintes, a saúde manteve seu protagonismo, mas deixou para trás o caráter emergencial para assumir papel mais estratégico nos planos de atuação social das empresas.

Os três últimos anos deixaram evidente o papel que a filantropia pode cumprir na melhoria da saúde pública e os dados da pesquisa documentam a prioridade que a área recebeu. O BISC monitora a cobertura que empresas e institutos e fundações corporativas conferem a cada temática social e verificamos que houve expressivo aumento na cobertura para a saúde, de 50% das organizações pesquisadas no pré-pandemia, em 2019, para 80% no pós-pandemia, em 2021. O volume de recursos aportados na saúde em 2021 foi mais de três vezes superior àquele de 2019, já ajustado pela inflação, atingindo mais de R$ 342 milhões. Este volume é provavelmente ainda maior, dadas as limitações da pesquisa neste mapeamento.

A análise dos dados sob a perspectiva setorial coloca luz à prioridade que a saúde vem recebendo pelo investimento social de empresas ligadas à indústria. Enquanto o ISC total à saúde das empresas monitoradas aumentou 3,15 vezes seu volume ante 2019, entre os participantes da indústria este aumento foi de 13,6 vezes, somando R$ 303 milhões. A atuação social das empresas industriais é relativamente mais focalizada nos territórios e comunidades do entorno das operações e tem inclinação a atender demandas específicas destas localidades. Ou seja, estamos falando de um volume de recursos que, focalizado nos problemas de territórios específicos, tem potencial de contribuir enormemente com a melhoria da saúde pública.

Uma das principais mudanças da atuação do investimento social corporativo nesta temática é a transição de um apoio histórico a entidades filantrópicas de saúde – que continua acontecendo – para uma atuação mais próxima das políticas públicas. Vemos surgirem demandas e iniciativas muito relevantes para média e alta complexidade, considerando a criticidade para municípios menores e afastados dos grandes centros. Mas, de forma geral, um dos principais eixos é o apoio às políticas públicas de atenção básica ou atenção primária nos municípios, porta de entrada dos cidadãos ao sistema público de saúde e que possui sérias deficiências no país.

Um dos exemplos nesse sentido é a atuação da Fundação Vale, que hoje considera a saúde um dos eixos centrais de sua agenda social. A instituição atua no tema explorando as interseccionalidades entre saúde, educação e assistência social, fortalecendo estruturas intersetoriais para promover a troca de informações e práticas. O objetivo é desenvolver estratégias consistentes e sustentáveis no enfrentamento às múltiplas vulnerabilidades das comunidades e territórios de atuação, atingindo 53 municípios em 2022.

O enfoque na atenção básica também é parte da estratégia do Instituto Votorantim, em parceria com as empresas de seu portfólio. Por meio do Programa de Apoio à Gestão Pública, exercem papel importante junto a prefeituras e Secretarias de Saúde no aprimoramento de competências e processos de gestão, assim como apoiam os territórios na superação de desafios da atenção primária como vazios sanitários e a adequação ao atual programa de financiamento público federal, o Previne Brasil. Em 2022, o impacto dessa atuação alcançou 24 municípios.

A despeito da distribuição territorial oferecida pela atuação social de importantes players do segmento do investimento social corporativo, os recursos ainda são concentrados. Metade do volume total monitorado pelo BISC em 2021 foi aplicado no Sudeste, enquanto o Norte e Nordeste receberam, respectivamente, 15% e 12% no mesmo período.

Neste contexto, é interessante acompanhar a iniciativa Juntos pela Saúde, promovida e cofinanciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o objetivo de apoiar e fortalecer o Sistema Público de Saúde (SUS) no Norte e Nordeste, buscando preencher simultaneamente as lacunas do SUS e do ISC nas regiões.

O caráter inovador da iniciativa merece destaque. O BNDES pretende captar R$ 100 milhões da iniciativa privada para, em seguida, aportar igual montante com seus recursos para destinar R$ 200 milhões para projetos na área da Saúde nestes territórios ao longo de quatro anos, valendo-se da estratégia de matchfunding, modelo que potencializa o impacto do investimento social privado ao ter uma organização que ofereça a contrapartida de duplicar ou até triplicar o valor aportado para a superação de determinado desafio.

As iniciativas mais recentes, portanto, vão na direção de reforçar a tendência da filantropia corporativa de encarar a Saúde com olhar mais estratégico e sob a perspectiva de parcerias para impulsionar o impacto gerado. Diante de um cenário onde as empresas estão cada vez mais comprometidas com seus compromissos sociais, estas experiências na Saúde sugerem que o estabelecimento de parcerias com governos e o alinhamento a políticas públicas existentes podem ser caminhos a seguir nos próximos anos para ampliar a capacidade privada de entregar impacto social positivo. Pelo lado do poder público, o que se observa à frente é que o investimento social corporativo pode ser um aliado cada vez mais estratégico para apoiar a superação dos imensos desafios sociais no país.

Patricia Loyola é diretora de gestão e investimento social corporativo na Comunitas, conduz a pesquisa BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo)

João Morais é economista e mestre em Políticas Públicas no Insper. É coordenador do benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), na Comunitas

Texto originalmente postado no Valor Econômico

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