“Na desagregação por fonte de financiamento, a resiliência do ISC foi influenciada pelos recursos próprios das empresas e seus institutos e fundações”
Em novembro, a Comunitas lançou os Destaques da pesquisa BISC 2022, 15ª edição da única pesquisa anual que identifica padrões do ISC no Brasil, produzindo conhecimento para o campo e oferecendo apoio estratégico às empresas e seus institutos e fundações na gestão da responsabilidade social. A última edição reuniu dados referentes a um conjunto de 182 empresas e 11 institutos e fundações corporativas. Este espaço será utilizado nos próximos meses para refletir e difundir seus principais resultados. Este primeiro texto destaca os dados quantitativos mais gerais do investimento social.
O volume de investimentos sociais corporativos em 2021 mostrou resiliência em patamares elevados, após nível recorde em 2020. A soma dos recursos aplicados pelas organizações da Rede BISC foi de R$ 4,1 bilhões, queda de 27% em termos reais ante o ano anterior, mesmo após a retirada de boa parte dos recursos extraordinários que vinham sendo aplicados no enfrentamento à COVID-19. Considerando a série histórica ajustada pela inflação, o volume de investimentos sociais de 2021 foi o terceiro maior desde que o BISC passou a monitorar o setor.
Como percentual do lucro bruto, a mediana do investimento social entre as organizações da Rede BISC foi de 0,69% em 2021, representando patamar relativamente baixo para sua série histórica e redução ante 2020, cuja mediana de 0,91% foi impulsionada pelos investimentos de enfrentamento à Covid. Nosso benchmarking internacional, o CECP, registrou mediana de 0,78% entre as empresas dos EUA, naturalmente acima da mediana brasileira devido aos diferentes graus de desenvolvimento e consolidação do ISC entre os países. No entanto, vale notar que em 2021 foi observada a menor distância entre os indicadores desde 2017. O monitoramento do investimento social a partir do percentual do lucro bruto das empresas é estratégico pois revela a importância das contribuições sociais na agenda corporativa e é adequado para traçar comparações por ser amplamente aceito internacionalmente pela academia, pela área empresarial e pela sociedade civil.
Na desagregação por fonte de financiamento, a resiliência do ISC foi influenciada pelos recursos próprios das empresas e seus institutos e fundações. O volume de investimento social com recursos próprios da Rede BISC somou R$ 2,9 bilhões, 42% abaixo do volume de 2020, mas acima dos R$ 2,2 bilhões registrados antes da pandemia, em 2019, ajustado pela inflação do período. Os recursos incentivados, por sua vez, atingiram o maior patamar da série histórica ao somar R$ 1,2 bilhão em 2021, impulsionados pela melhora no desempenho financeiro das empresas e pela retomada do setor cultural após o período mais intenso de distanciamento social.
Observando pela desagregação por origem dos repasses, a resiliência decorreu dos recursos financeiros diretos das empresas, que atingiram R$ 2,4 bilhões e seguiram muito acima dos patamares pré-pandemia (R$ 1,4 bilhão em 2019), apesar da queda em relação a 2020 (R$ 3,0 bilhões). As empresas mantiveram elevado volume de ISC no ano e sua importância relativa segue aumentando, em linha com a atuação cada vez mais estratégica das áreas sociais. Os institutos e fundações, por sua vez, retornaram aos níveis de 2019 e somaram investimento de R$ 1,4 bilhão em 2021, após R$ 1,7 bilhão em 2020, evolução relativamente estável em linha com sua natureza de maior perenidade orçamentária e menor sensibilidade à conjuntura econômica. Ainda, houve investimento de R$ 242 milhões na forma de bens e serviços, redução ante volume de R$ 867 milhões em 2020.
Para os próximos anos, a perspectiva majoritária da Rede BISC é de manutenção dos volumes de investimentos (55% da Rede). Parcela relevante, ainda, tem expectativa de aumento dos recursos durante o período (27%). No processo de entrevistas com os gestores da Rede, a ampliação do papel estratégico das áreas sociais foi uma motivação bastante citada para que o investimento social pelo menos mantenha os níveis atuais.
João Morais
Coordenador da pesquisa BISC
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