Grupo de Debates do BISC analisa conjuntura das parcerias entre setores

Em encontro, foram apresentados dados referentes ao tema ao longo de várias edições do BISC, bem como os novo desafios da realização das parcerias diante do cenário do Brasil

Na quarta (27), a equipe do Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC) promoveu o primeiro Grupo de Debates do ano. O evento, realizado com parceiros da Rede BISC, tratou sobre o tema de parceria para a realização do investimento social corporativo, englobando aquelas com governos e órgãos públicos, com organizações da sociedade civil, com outras empresas e na forma de atuação em redes multissetoriais.



Com mediação de Janine Mello, pesquisadora do IPEA e coordenadora geral do Mapa das Organizações da Sociedade Civil, o encontro teve a presença de integrantes antigos da rede BISC, como o Instituto Coca-Cola Brasil, Gerdau, Neoenergia, Vale e Solar, e também de parceiros que se juntaram à Rede BISC em 2022, como a Cargill e a Serasa Experian. A Prof.ª Dr.ª Rosa Maria Fischer (FEA/USP), que também contribui com o BISC, ofereceu seu olhar acadêmico.  

O Grupo de Debates é um espaço para reflexões, exposições e trocas de experiências no investimento social das empresas e institutos e fundações empresariais da Rede. No encontro, foi possível discutir assuntos que podem influenciar a pesquisa, criar novas perguntas e fazer com que as empresas desenvolvam um olhar inovador na temática tratada. Outro ponto é permitir o engajamento da rede para que, juntos, possam refletir sobre desafios e soluções comuns ou complementares em um espaço de aprendizado entre pares.

De acordo com os dados do BISC de 2016, foram estabelecidos 25 indicadores para verificar o grau em que cada um dos requisitos de parcerias é atendido (integralmente, parcialmente ou não atendido). Ao longo dos anos, houve uma queda da nota média desses indicadores, o que pode ser atribuído à uma autoavaliação mais rigorosa devido ao próprio aprendizado dos integrantes da rede. Os critérios que tiveram um aumento de nota foram o mapeamento das principais parcerias, a competência e completariedade dos parceiros e conhecimento in loco.

Parcerias com organizações sem fins lucrativos

Nos anos de 2017 e 2020, o BISC observou uma tendência crescente do apoio de empresas à execução de projetos desenvolvidos por organizações da sociedade civil (OSC). Entretanto, em 2020, sob influência da pandemia, houve um aumento significativo do investimento direto do setor corporativo em projetos próprios sendo executados por terceiros. Já por parte dos institutos/fundações, embora essas organizações normalmente executem seus projetos, também houve o crescimento na tendência de apoiar ações de organizações sociais. A pesquisa também apontou que houve um salto de cerca de 600 OSCs apoiadas em 2019 para 2.056 em 2020. Houve, ainda, um aumento significativo nos repasses a estas organizações: de R$ 500 milhões para R$ 1,9 bilhão.

Ao longo da década passada, viu-se que em torno de 80% das empresas e institutos/empresariais atuaram com organizações sem fins lucrativos na área da Educação, 50% na área de meio ambiente e patrocínio a eventos culturais. Com relação à percepção dos benefícios decorrentes da parceria com OSCs, cabe destaque para o crescimento significativo na percepção de que este conduz para maior alinhamento dos investimentos sociais corporativos (ISCs) com as políticas públicas: 9% possuíam esta percepção em 2011 e 66% em 2016, um salto de 57 pontos percentuais. 


Porém, também é preciso analisar o que leva uma parceria com OSC a ser encerrada. Dentre as dificuldades enfrentadas pelas empresas, a dificuldade na prestação de contas por parte das organizações é a que mais se destaca, de acordo com as edições do BISC de 2012 e 2017. Em ambos os anos, o critério é apontado por 42% e 47% dos membros da rede, respectivamente. Em segundo lugar, a dependência gerada nas organizações em relação ao apoio financeiro das empresas, com 46%, seguido pelo despreparo das OSCs para avaliar os resultados dos projetos apoiados, com 31% (nos dois últimos casos, o dado é referente ao BISC 2017 apenas). 

Parcerias com governos e órgãos governamentais

Desde 2010, a tendência de realizar parcerias com governos vem caindo consistentemente, sobretudo com o Governo Federal. De acordo com a rede BISC, o interesse em realizar acordos com governos teve uma redução de 85% para 45% no período de uma década que o quesito foi analisado. Isso se deve às dificuldades impostas para a realização de ações em conjunto entre o setor corporativo e órgãos governamentais. Questões como excesso de burocracia (55%) e morosidade nas decisões (36%) são apontados pelo grupo como fatores determinantes para a não realização de parcerias com esse setor. 

Apesar destas dificuldades, 88% das empresas e institutos/fundações empresariais que realizavam parcerias com governos municipais avaliavam estas parcerias como satisfatórias, enquanto que para parcerias com governos estaduais, 75% avaliavam como satisfatória, conforme apontam dados do BISC 2018.

Com relação às políticas públicas, a rede BISC apontou, na edição de 2021, prioridade “muito grande” e “grande” em quesitos como participação indireta por meio do apoio e fortalecimento de organizações sociais ou das comunidades onde atuam para que elas influenciem as políticas públicas apareceu com 33%, assim como participação direta no apoio à gestão de políticas públicas. Essas ações estão previstas para o biênio de 2022/2023. 


Parcerias com empresas

Em 2014, o BISC já buscava analisar a questão das parcerias entre empresas. Para 53% do grupo, as parcerias tendem a ser fortalecidas quando há alinhamento dos ISCs aos interesses do próprio negócio, o que conduz ao trabalho conjunto com outras empresas do próprio setor. Outro ponto de convergência da rede foi a identificação de problemas públicos que exigem uma atuação coletiva, aparecendo com 47%.

Já no que diz respeito às perspectivas de parcerias entre empresas para atuação no campo social, a maioria do grupo priorizou o fortalecimento com empresas da cadeia de fornecedores, com 44% e 50% da rede assinalando “fortalecer muito” e “fortalecer”, respectivamente. No que concerne aos fatores que poderiam dificultar parcerias entre empresas no futuro, as alternativas mais assinaladas pelo grupo foram a dificuldade de compartilhar a gestão dos investimentos sociais, com 59% das respostas, e conflitos de interesse, com 53%.

Novos desafios

Janine Mello, pesquisadora do IPEA, propôs aos participantes do Grupo de Debates um olhar para os desafios que a atual conjuntura demanda, tanto do aspecto das parcerias, como do momento que o país atravessa. Ela trouxe questionamentos como de que forma é possível ampliar a efetividade e o impacto das ações, de forma a ‘girar o ponteiro’ e mudar a realidade; como articular a atuação em rede, para analisar a possibilidade de uma atuação de alto impacto; e as possíveis articulações entre Estado, empresas e OSCs, ao mesmo tempo em que se tenta equilibrar a autonomia dos setores com a agenda de compromissos públicos e articulação com entes estatais.

“Pensando que vamos ter eleições para presidente e governador estadual, quais são os fatores e as possibilidades que giram em torno de uma possível concertação? Independente de incluir o governo, de que forma seria possível articular internamente, ou seja, com os OSCs e o mercado, o que é possível fazer para atuar em rede gerando escala?”, questionou Janine.

Para Patrícia Loyola, diretora de Investimento Social da Comunitas, as empresas são as que mais conhecem o que precisa ser feito para ‘girar o ponteiro’. “No último ano, como principal prioridade da nossa rede, talvez sob influência da pandemia, houve o olhar mais atento para o ODS 8, que trata de geração de emprego e renda. Esse é um grande desafio do país no momento e eu também sei que muitos parceiros estão investindo em qualificação de pessoas para o mercado de trabalho”.

Parceria exitosa

Luíza Genari, da área de Articulações Intersetoriais e Voluntariado da Vale, apresentou para o grupo uma ação exitosa que só foi possível graças à realização de parceria entre empresas e OSCs. O PrevisIA é uma plataforma de inteligência artificial que monitora o desmatamento da Amazônia em tempo real. 

Criado em meados de 2020, o projeto foi desenvolvido a partir de uma articulação entre o instituto Imazon, o Fundo Vale e a Microsoft, em que cada um dos atores contribuiu com sua expertise. O Imazon entrou com todo conhecimento técnico sobre os desafios da Amazônia, com pesquisa e levantamento de dados; o Fundo Vale, com a tradição de investir em soluções que possam fazer a leitura do impacto socioambiental de suas áreas de atuação, e a Microsoft, que faz parte da cadeia de fornecedores da Vale, trouxe a inteligência artificial para a plataforma. 

“A gente tem como objetivo fortalecer parcerias porque a gente sabe que é impossível a Vale, sozinha, resolver os desafios dos territórios em que temos atuação”, declarou ela.

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