Desafios climáticos e compromisso com a descarbonização são pautas materiais para maioria das grandes empresas do país

Dados obtidos a partir dos estudos ESG no Ibovespa e Reporting Matters também apontam a priorização dos ODS nas estratégias corporativas. Confira!

A sustentabilidade e a responsabilidade corporativa desempenham um papel crucial no cenário empresarial global, com as empresas buscando integrar práticas ESG em suas estratégias para garantir a longevidade e o sucesso dos negócios. 

No contexto brasileiro, pesquisas como a ESG no Ibovespa e a Reporting Matters fornecem insights valiosos sobre as práticas ESG e identificam avanços, desafios e oportunidades para aprimorar a atuação das empresas no campo da sustentabilidade, bem como no relato de suas atividades em seus relatórios.

Ambos os estudos destacam a crescente importância da integração de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) nas estratégias corporativas das empresas, além de evidenciar a relevância do engajamento com questões como as mudanças climáticas, movimento também já identificado pelo BISC, e a integração dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas operações corporativas. 

Ademais, os estudos também ressaltam a necessidade de maior transparência e confiabilidade nas divulgações dos dados de sustentabilidade, seja por meio de auditorias externas, como mencionado no estudo ESG no Ibovespa, ou através da padronização de relatórios conforme diretrizes como as da Global Reporting Initiative (GRI), destacada no estudo Reporting Matters.

Confira a seguir. 

ESG no Ibovespa

Conduzida pela PricewaterhouseCoopers (PwC Brasil) em parceria com o Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon), o estudo faz uma análise de relatórios de sustentabilidade das 82 empresas listadas no principal índice de desempenho da Bolsa de Valores do Brasil em 2023. 

Os relatórios estudados pelas entidades mencionadas acima são relativos a 2022. De acordo com a pesquisa, divulgada no final de 2023, as mudanças climáticas se tornaram o principal influenciador das decisões tomadas por 85% das empresas do universo de organizações analisadas. Além disso, foram especialmente salientadas a preocupação com a divulgação de dados estatísticos sobre diversidade e a integração dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas ações de ESG.

Impactos climáticos e compromisso com a descarbonização

No que se refere à questão climática, 52% das empresas demonstraram uma forte preocupação com as emissões de gases do efeito estufa. No entanto, a grande maioria das mesmas (93%) não se declaram como carbono neutra. 

Ainda, mais da metade dos relatórios estudados (57%) não apresentou um compromisso real para a conversão das empresas ao padrão carbono neutro ou Net Zero. Das organizações que relataram algum compromisso, 54% delas se comprometeram com a neutralização das emissões ou o atingimento das metas Net Zero em 2050.

Integração dos ODS nas estratégias corporativas

Trabalho Decente e Crescimento Econômico (ODS 8) e Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13) foram os ODS mais citados por cerca de 80% das empresas que informaram aderir ao Pacto Global da ONU. Essas citações demonstram uma conexão direta com os principais temas materiais apontados pelas empresas. 

Por outro lado, chamou a atenção o elevado desequilíbrio que o setor empresarial está conferindo aos ODSs. Causas importantes como Erradicação da Pobreza (ODS 1) e Fome Zero, entre outras, receberam cobertura inferior a 40% das empresas do Ibovespa. A agenda de Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11), no centro do debate acerca do enfrentamento às mudanças climáticas, recebeu cobertura entre 40% e 60% das empresas pesquisadas. 

Avanços com relação à diversidade e inclusão

As estatísticas relacionadas à diversidade têm avançado. Além de reportar métricas relacionadas à presença de homens e mulheres nessas organizações, nota-se maior divulgação de informações demográficas acerca dos marcadores de raça e orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Com 97% das empresas considerando o gênero em suas políticas e práticas, seguidas por 85% que abordam questões geracionais, observa-se um reconhecimento da necessidade da diversidade de gênero e etária na força de trabalho. Além disso, 73% das empresas consideram pessoas com deficiência (PCD), refletindo um compromisso com a inclusão e acessibilidade. 

81% das empresas também ressaltaram a questão racial, enquanto 52% abordaram a pauta LGBTQIA+, indicando uma tendência positiva em relação à diversidade étnica e de orientação sexual nas organizações. Embora haja espaço para aprimoramentos, é fundamental reconhecer a importância contínua de promover ambientes corporativos inclusivos e diversos.

Reporting Matters

O Reporting Matters teve início em 2013 no World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) como um dos maiores projetos independentes de pesquisa sobre relatórios de sustentabilidade corporativos.

Em 2023, sendo liderado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) com o apoio do Grupo Report, o Reporting Matters foi publicado no Brasil pela primeira vez. Ao todo, foram analisados 77 relatórios publicados no país referentes a 2022.

No total, foram avaliados 16 critérios e 81 subcritérios, como materialidade, engajamento de stakeholders, verificação externa, metas e compromissos, implementação e controles e impacto. Os dez relatórios com pontuações mais elevadas foram, em ordem alfabética: Ambev, Arezzo, Boticário, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Eneva, Grupo Pão de Açúcar (GPA), Itaú, Natura, Petrobras e Suzano.

Principais achados do Reporting Matters no Brasil

Validação dos relatórios por auditoria externa

Aproximadamente 74% das empresas relataram submeter parte ou a totalidade do relatório de sustentabilidade a processos de validação por meio de auditorias externas. Essa constatação sugere que essa prática ainda não é universalizada entre as organizações, representando um potencial para aumentar a transparência e a confiabilidade das informações divulgadas.

Metodologia de reporte

A maioria das empresas analisadas (91%) emprega as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), seja de forma isolada ou em conjunto com outros padrões de reporte, para guiar a elaboração de seus relatórios de sustentabilidade, o que reflete a importância da padronização para a comparabilidade das informações.

Facilidade no acesso à informações

Embora 96% dos relatórios estejam disponíveis online, uma proporção significativa (18%) é encontrada com dificuldade, exigindo mais do que alguns cliques para serem localizados, destacando a importância da facilidade de acesso às informações de sustentabilidade.

Priorização dos ODS nas operações corporativas

Embora 63% identifique os ODS como prioritários para suas operações, apenas uma parcela significativamente menor (10%) definiu metas claras alinhadas a eles, indicando uma necessidade de maior integração e compromisso com a agenda de sustentabilidade global.

Desafios climáticos

Na temática dos desafios climáticos, quase 60% das empresas afirmaram ter o compromisso de alcançar a neutralidade de carbono até 2050, evidenciando um movimento crescente em direção à descarbonização das operações e à luta contra as mudanças climáticas.

Direitos humanos

Mais de 60% das companhias analisadas possuem uma política de direitos humanos que faz referência aos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos (UNGPs), indicando um compromisso com a promoção e proteção das garantias fundamentais individuais em suas operações e cadeias de valor.

Principais pautas para as empresas analisadas no Reporting Matters

A análise dos temas materiais mais abordados pelas empresas em 2022 reflete uma abordagem holística das empresas em relação à sua responsabilidade corporativa, buscando um equilíbrio entre preocupações ambientais, sociais e de governança.

A sustentabilidade ambiental surge como uma prioridade clara, com temas como mudanças climáticas (70%), gestão da água (42%), energia (36%) e biodiversidade (38%) ocupando posições de destaque. Isso demonstra um reconhecimento crescente da necessidade de mitigar os impactos ambientais e adotar práticas sustentáveis.

Paralelamente, a atenção ao público interno, representada por questões de saúde, bem-estar e segurança no trabalho (64%), reflete um compromisso das companhias com o cuidado e desenvolvimento de seus colaboradores. Da mesma forma, o engajamento com comunidades e responsabilidade social (62%) indica uma preocupação em contribuir para o bem-estar das regiões onde operam. 

Além disso, temas como ética, compliance e diversidade (73% e 60%, respectivamente) demonstram um compromisso crescente com a integridade e a equidade dentro das organizações.

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