Do assistencialismo a eixo estratégico de uma empresa, o alinhamento entre investimento social e o negócio vem mudando o paradigma das práticas sociais corporativas
Crédito da Imagem: B3 Social, que visa contribuir com a redução de desigualdades sociais no Brasil ao financiar organizações e projetos que atuem de forma estruturante na melhoria da educação pública brasileira
O alinhamento entre o investimento social e o negócio vem sendo percebido por investidores sociais como uma tendência já há bastante tempo. Com o passar dos anos, emergiu o reconhecimento de que esse movimento está em consolidação e passou a ser visto como estratégico.
A última edição da pesquisa BISC indicou que o alinhamento entre investimento social e os negócios é consenso entre os investidores sociais da Rede BISC. É cada vez mais reconhecida a capacidade de essa abordagem gerar uma relação de ganha-ganha, visto que o setor corporativo consegue estreitar os laços com as comunidades onde atuam e fortalecer suas reputações. Tal alinhamento vem ancorado na percepção de que tanto o impacto social quanto o negócio podem se beneficiar mutuamente.
Mas o que, de fato, é o alinhamento do investimento social aos negócios? Como esse conceito surgiu? Quais fatores podem interferir na escolha de aporte do investimento social?
Conceito ainda é incerto
Apesar do consenso acerca da importância do alinhamento do investimento social aos negócios, há pouca clareza e concordância plena sobre o que significa este alinhamento ou em quais práticas e implicações isto se converte.
De forma mais clara, os integrantes da Rede BISC declararam que alinhar o ISC aos negócios passa por articular o investimento social corporativo ao propósito e materialidade da empresa. O que, por sua vez, é particular a cada organização, portanto, dificultando um significado mais geral.
Essa é uma discussão que já perdura há bastante tempo. Em 2015, por exemplo, o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) lançou um estudo para debater a questão – sem, contudo, atribuir um significado mais preciso à expressão. O material, entretanto, destaca que existe uma pluralidade na interpretação do que é esse alinhamento. Enquanto algumas organizações enxergam o alinhamento como uma reafirmação da independência entre ISC e negócio, outras buscam uma maior integração, visando a geração de valor para a empresa.
Quais fatores interferem no direcionamento do ISC?
O avanço da agenda de sustentabilidade vem influenciando as empresas a alinhar seu investimento social a seus negócios de forma mais estratégica. Algumas empresas da Rede, inclusive, chegaram a relatar na edição mais recente do BISC que mudaram de um modelo de investimento social familiar e assistencialista para um modelo voltado a impactos sistêmicos e conectado com a materialidade do negócio.
No entanto, esse alinhamento é moldado por elementos condicionantes internos e externos às empresas. Os elementos endógenos dizem respeito aos atributos e estruturas internas das organizações, como a governança e a origem dos recursos. Os elementos exógenos dizem respeito ao contexto no qual as companhias estão inseridas, como as políticas públicas e a situação econômica do país.
Fatores endógenos x exógenos
Os elementos endógenos referem-se a atributos e estruturas internas das organizações. Dentre os quais, podem-se destacar a estrutura de governança e a origem dos recursos do ISC. A origem dos recursos, por exemplo, desempenha um papel fundamental, especialmente em empresas vinculadas a matrizes estrangeiras.
O padrão observado na pesquisa BISC destaca que subsidiárias brasileiras muitas vezes precisam seguir diretrizes globais para sua atuação social, limitando suas escolhas quanto a uma atuação direta ou via instituto, assim como na definição dos eixos temáticos relevantes. Elementos internos, como restrição orçamentária e a atuação em negócios de forte apelo social, orientam o caminho do ISC em direção ao negócio.
Além disso, bancos e fundos, investidores, consumidores e a sociedade civil exercem influência sobre a prática corporativa, sendo encarados como fontes de pressão e influência externas. Destaca-se também a importância dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que desencadeou uma mudança de paradigma, levando o setor corporativo a assumir ativamente um papel de corresponsabilidade pelos impactos no planeta e na sociedade, integrando a atuação social corporativa aos negócios.
Perspectivas futuras
Os integrantes da Rede BISC projetam uma tendência de que haja um aprofundamento do movimento de alinhamento entre investimento social e negócios nos próximos cinco ou dez anos. Para eles, a evolução natural é chegar à compreensão de que “o negócio é social” e venha a ser institucionalizada, integrando objetivos sociais ao planejamento global das empresas, indo além da esfera social.
No entanto, essa agenda ainda enfrenta desafios, incluindo a polarização da sociedade, dinâmicas políticas e tensões históricas, como a distinção entre ação social e negócio, bem como o risco de cooptação da ação social pelo negócio. Para isso, é necessário estabelecer os objetivos e as responsabilidades de cada um. Isso é fundamental para garantir que os recursos sejam usados de forma eficaz e que os conflitos de interesse sejam evitados, especialmente em colaborações com a sociedade civil e o poder público.
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