
Crédito da Imagem: Arquivo pessoal/Agência Brasil
Com a intensificação das mudanças climáticas, desastres naturais estão se tornando mais frequentes e severos. Esses eventos trazem consigo danos humanos, materiais e econômicos significativos, afetando regiões em todo o mundo, inclusive o Brasil.
Em 2023, muitos países, incluindo o Brasil, registraram recordes históricos de temperatura. A expectativa é que 2024 possa superar esses recordes, agravando ainda mais a situação climática global.
Neste mês, o Estado do Rio Grande do Sul foi (e ainda vem sendo) gravemente afetado por chuvas intensas, onde mais de 90% dos municípios gaúchos foram atingidos. Nesse contexto, o papel do investimento social corporativo (ISC) se torna relevante, já que governos, muitas vezes, carecem de recursos e agilidade para enfrentar esses desafios.
Atuação do ISC diante de eventos climáticos extremos
Segundo o BISC 2023, que analisou dados de 2022, houve um redirecionamento significativo da atuação corporativa para o apoio emergencial, especialmente em situações de eventos climáticos extremos.
- Em 2020, 25% das empresas estavam envolvidas em ações emergenciais ligadas a calamidades públicas derivadas de eventos climáticos extremos, portanto desconsiderando a atuação na pandemia da Covid-19;
- Em 2022, esse número aumentou para 75%, um crescimento de 52 pontos percentuais.
A Importância do Setor Privado no Enfrentamento de Emergências
Lições da COVID-19
A pandemia da Covid-19 destacou a importância do setor privado no enfrentamento a emergências. Com doações corporativas significativas, o setor privado demonstrou capacidade de mobilizar rapidamente recursos essenciais.
Desafios em situação de desastre
O BISC identificou padrões de desafios comuns que o setor corporativo enfrenta ao atuar em ações emergenciais. A experiência acumulada revela a necessidade de superar os seguintes obstáculos: desafios de ordem logística e desafios ligados à articulação das ações.
Diante desse contexto, como as empresas podem se preparar e responder, de forma eficaz, a esses eventos? Aqui estão quatro práticas:
Práticas corporativas eficazes
1. Reserva específica de recursos
Emergências são imprevisíveis e exigem uma resposta rápida. Empresas devem ter recursos já aprovados e disponíveis, prontos para serem liberados imediatamente após um desastre.
Com o aumento das temperaturas globais e mudanças climáticas, é certo que esses eventos se tornarão mais frequentes, embora não possamos prever quando e onde ocorrerão. A prontidão financeira permite uma resposta ágil e eficaz.
2. Relações de confiança com organizações da sociedade civil
A eficácia da resposta de uma empresa a desastres depende da parceria com organizações da sociedade civil (OSCs). Essas parcerias devem ser estáveis e duradouras, baseadas em confiança mútua. As OSCs possuem a capilaridade necessária para garantir que os recursos cheguem rapidamente às áreas afetadas. Além disso, essas organizações são capazes de identificar as necessidades de cada população atingida, evitando sobreposição e desperdício. Parcerias duradouras com estas organizações facilitam a agilidade na liberação do recurso e os processos de compliance e prestação de contas.
3. Modelar estratégia de atuação segundo os ativos da empresa
As empresas possuem ativos diversos que são estratégicos para o enfrentamento às calamidades públicas, como logística, tecnologias, dados e capilaridade no território. Assim, além das doações corporativas na forma de itens (cesta básica, kits de higiene etc.) ou de dinheiro, o setor privado pode atuar de forma decisiva ao oferecer estes ativos estratégicos à força-tarefa.
4. Olhar para o Pós-Crise
As doações para alívio humanitário geralmente oscilam conforme a comoção pública e a cobertura da mídia, mas os efeitos colaterais de um desastre perduram.
Empresas focadas em agendas de longo prazo, como educação e capacitação profissional, podem adotar critérios de vulnerabilidade climática para definir suas populações-alvo, garantindo apoio contínuo e relevante após a crise imediata.
Essas práticas permitem que as empresas não só respondam de forma eficaz às emergências, mas também contribuam para a resiliência e recuperação das comunidades afetadas, demonstrando um compromisso sólido com a responsabilidade social corporativa.
Bônus: Potencial de atuação de empresas na adaptação climática
Para além das ações de enfrentamento a calamidades públicas, o setor privado precisa avançar no fortalecimento da agenda de adaptação climática. A Pesquisa BISC 2023 destaca uma tendência do ISC em se mover para uma atuação híbrida que concilia uma visão sistêmica e alinhamento à política pública com a atuação direta nas comunidades de interesse das empresas. Confira, a seguir, ações com potencial de empresas na adaptação climática.
1. Produção de dados para apoiar o tomador de decisão
A estratégia de produção de conhecimento e incidência para apoiar o desenho de políticas públicas é essencial. Em 2023, o Instituto Votorantim lançou sua Ação Climática, que incluiu a construção de uma plataforma de dados para identificar territórios vulneráveis às mudanças climáticas e um conjunto de práticas para ajudar municípios a lidarem com a agenda de adaptação.
2. Fortalecimento de capacidades estatais
O ISC pode atuar em projetos de grande escala para preencher lacunas de capacidade estatal nos territórios, utilizando práticas diversas como mentorias, capacitações e oficinas para preparar municípios a passar por etapas como a elaboração de planos de crise e captação de recursos junto ao Governo Federal e organismos multilaterais. Essas ações ajudam a fortalecer as capacidades institucionais locais, permitindo uma resposta mais eficaz às mudanças climáticas.
3. Fortalecimento da sociedade civil
Reconhecendo que a sociedade civil é um parceiro fundamental para garantir agilidade, segurança e eficácia nas doações, é essencial desenvolver Organizações da Sociedade Civil (OSCs) nas localidades mais vulneráveis.
Segundo o Mapa das OSCs, entre as mais de 815 mil organizações identificadas, apenas 54 atuam no tema meio ambiente e apenas 12 no ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis.

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