Dentre as notícias da semana, me chamou atenção uma matéria do Valor Econômico cuja manchete destacou “Só um quarto das empresas têm política voltado aos direitos humanos”, segundo resultados preliminares do autodiagnóstico de empresas brasileiras sobre gestão de riscos relacionados a direitos humanos realizado pelo Pacto Global e Proactiva.
Conforme o levantamento, a grande maioria das corporações assina compromissos públicos relacionados ao tema, mas somente 26% têm de fato política específica voltada a tais direitos. Há uma assimetria na identificação de risco entre os diferentes stakeholders, considerando que os direitos humanos são tratados na cadeia de valor em 88% nas operações próprias, 73% na cadeia de suprimento e 44% para clientes e consumidores finais.
Direitos Humanos foi o tópico especial pesquisado na edição BISC 2019 e observamos questões curiosas ao relacionar os investimentos sociais corporativos aos Direitos Humanos na agenda de sustentabilidade das empresas. Naquele momento, celebrava-se 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em dezembro de 2018, o que estimulou inúmeras organizações nacionais e internacionais a fazerem balanços das conquistas e desafios enfrentados, nas últimas décadas, para eliminar violações aos direitos básicos de cidadania.
Na época, 67% da Rede BISC declarou que o tema está expressamente contemplado em seus compromissos corporativos e 46% das empresas foram além de estabelecer uma política institucional específica aprovada pela alta direção ou pelo conselho de administração. Neste aspecto, ainda que há quatro anos, a Rede BISC já estava à frente do percentual levantado pela atual pesquisa do Pacto Global.
Entretanto, o BISC identificou que quando se trata de tais políticas de direitos humanos, a atenção está concentrada no público interno e nos atores diretamente associados à gestão dos negócios (operações próprias e cadeia de suprimento). Naquele momento, os resultados extraídos revelaram que “em apenas 36% das empresas os investimentos sociais são parte integrante da política corporativa de direitos humanos, e em outro um terço delas as equipes sequer souberam responder a tal indagação”.
A pouca familiaridade com o tema aliada ao fato de 21% das empresas terem declarado a intenção de avançar nesse alinhamento demonstra espaço para aprofundamento de tal reflexão e evolução das práticas relacionadas.
Ainda que a defesa dos direitos humanos não estivesse explicitada em qualquer documento oficial de 43% das empresas, grande parte das ações desenvolvidas pela Rede BISC se relacionavam com essa causa. Ao passo que diversos temas contemplados na atuação do grupo estão inseridos na pauta adotada pelo International Human Rights Funder Group.
Na época, mais de 70% das empresas e de 50% dos institutos possuíam projetos que, de alguma forma, contribuíram para a promoção dos direitos das crianças e adolescentes, do direito à educação e do direito à participação na vida cultural das comunidades.
A pesquisa BISC 2019 apontou que a dificuldade de aumentar o engajamento em prol da defesa dos direitos humanos nos investimentos sociais das empresas pode ser atribuída ao fato de que no Brasil tal questão é associada a questões ideológicas ou à defesa de quem não merece.
Dados de pesquisa realizada pela Ipsos demonstra esta constatação: “dois, em cada três entrevistados, acreditam que os direitos humanos defendem mais bandidos que vítimas” e a maioria dos gestores sociais da Rede BISC (69%) concordaram com tal afirmação: “convencer os atores internos à empresa de que a causa dos direitos humanos é de todos, independentemente de ideologia ou de orientação política”.
As edições posteriores do BISC seguiu monitorando o envolvimento da Rede com a defesa de Direitos Humanos e o comportamento é volátil: 50% da Rede se envolveu na área em 2019, 75% em 2020 e 36% em 2021, volatilidade que parece conversar com a dificuldade de emplacar o tema nas empresas.
Por fim, os resultados do BISC apontaram que, mesmo com os desafios sinalizados, há espaços para fortalecer as relações entre as práticas sociais e as práticas de gestão corporativa no que tange os Direitos Humanos. Então, vamos em frente!
Patricia Loyola
Diretora de Gestão e Investimento Social da Comunitas
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