Ao integrar objetivos corporativos com iniciativas sociais, empresas podem transformar suas cadeias de valor em agentes de mudança

Crédito da Imagem: FIA Business School
Você já parou para pensar no impacto que uma simples compra pode ter em toda uma cadeia de produção? Desde a extração da matéria-prima até o consumidor final, cada etapa desse processo não apenas movimenta a economia, mas também influencia o meio ambiente, as condições de trabalho e a qualidade de vida de inúmeras pessoas. Empresas não operam isoladamente – elas fazem parte de um ecossistema interdependente onde fornecedores, colaboradores e clientes desempenham seus papéis.
Essa lógica é conhecida como cadeia de valor, um conceito introduzido em 1985 pelo professor Michael Porter, da Escola de Negócios de Harvard. Ele define a cadeia de valor como um “conjunto de atividades coordenadas que, por meio de processos específicos, transformam insumos em produtos, agregando tanto valor intangível quanto valor de mercado”. Em outras palavras, cada decisão tomada ao longo dessa cadeia influencia diretamente os resultados finais, tanto em termos financeiros quanto em impacto social.
Tudo está interconectado, e, nesse contexto, a incorporação de valor social na cadeia de valor torna-se um elemento essencial para uma gestão responsável e conectada com a sustentabilidade. Empresas que movimentam grandes cadeias de valor e que possuem inteligência social em seus times de Responsabilidade Social Corporativa ou Institutos e Fundações podem engajar suas estruturas de negócio para a adoção de práticas sustentáveis e socialmente responsáveis. Mas como isso pode ser feito na prática? E quais os benefícios para os negócios e para a sociedade?
Nos próximos tópicos, vamos explorar como o engajamento social da cadeia de valor pode ser uma ferramenta poderosa para ampliar o impacto social das empresas e transformar o modo como elas se relacionam com o mundo. Inclusive, esse será o tema central do primeiro Grupo de Debates do ano, que acontecerá na próxima segunda-feira (10).
Afinal, o que é valor social?
O valor social refere-se ao impacto positivo que uma organização pode gerar na comunidade e na sociedade como um todo, indo além dos benefícios econômicos tradicionais. Ele engloba iniciativas que promovem o bem-estar social, a inclusão, a sustentabilidade e o desenvolvimento comunitário, como a geração de empregos locais, o apoio a grupos marginalizados, o voluntariado e o investimento em projetos que beneficiam a população.
A importância do valor social está em sua capacidade de transformar as operações cotidianas de uma organização em oportunidades para criar um impacto significativo na vida das pessoas e no meio ambiente. Ao integrar o valor social em suas atividades, as empresas não apenas cumprem seu papel de responsabilidade social, mas também fortalecem suas relações com as comunidades, promovem a sustentabilidade e contribuem para um futuro mais justo e inclusivo.
Estratégias utilizadas por empresas da Rede BISC
O BISC 2024 aponta que a inteligência desenvolvida pelo investimento social e pelas práticas de responsabilidade social corporativa são crescentemente aplicadas para desenvolver as relações com as cadeias de valor das companhias. 83% das empresas da Rede BISC declararam adotar processos para examinar as práticas e os impactos sociais relacionados à sua cadeia de fornecedores, revelando certa consolidação desta prática.
Um passo adicional que vem sendo adotado é mobilizar e engajar fornecedores para a adoção de comprometimento com causas sociais. Para esta prática, 46% da Rede BISC declarou já implementar políticas nesse sentido, mas para 54% este passo ainda se apresenta como perspectiva de futuro. Um percentual ainda menor da Rede BISC (15%) declarou estimular de alguma forma as empresas da sua cadeia de fornecedores a fazerem doações via incentivo fiscal.

Fonte: BISC 2024
Dentre as empresas que já praticam ações de mobilização e engajamento de fornecedores para a adoção de comprometimento com causas sociais, destaca-se a estratégia do uso de cláusulas contratuais como a mais disseminada, tendo sido apontada por 86% das empresas.

Fonte: BISC 2024
As ações de difusão de conhecimento e inteligência social, capacitação de fornecedores e o estabelecimento de parcerias para implementação de projetos locais foram outras ações bastante citadas. Apesar do percentual similar, as respostas foram bem distribuídas pelas empresas respondentes, revelando um potencial de aprendizado e sinergia dentro da Rede BISC a ser explorado.
Práticas adotadas internacionalmente para engajar a cadeia de fornecedores
O documento Incorporating Social Value in the Supply Chain (Incorporando Valor Social na Cadeia de Fornecimento, em tradução livre) apresenta quatro estratégias que ajudam a garantir que os fornecedores não apenas cumpram os compromissos de valor social, mas também desenvolvam práticas inovadoras e sustentáveis que ampliem o impacto positivo ao longo da cadeia de suprimentos.
O documento aponta que a incorporação do valor social na cadeia de suprimentos requer uma abordagem estratégica e integrada, que começa desde a fase de licitação e se estende até a gestão do desempenho dos fornecedores. Durante o processo de aquisição, é essencial alinhar as oportunidades de valor social com as atividades dos prestadores de serviços, considerando a categoria de aquisição e a duração do contrato.
Isso pode incluir a oferta de programas de aprendizagem, empregos locais ou apoio a grupos socialmente mais vulneráveis, dependendo do tipo de serviço. Além disso, o valor social deve ser integrado em todas as etapas do processo de licitação, desde a pré-qualificação até a adjudicação do contrato, com critérios claros de avaliação e compromissos documentados que garantam a entrega de resultados sociais.
Na gestão do desempenho dos fornecedores, é crucial estabelecer indicadores-chave de desempenho (KPIs) que meçam o impacto social, como o número de empregos locais criados, horas de voluntariado ou investimentos em iniciativas comunitárias. A construção da capacidade da cadeia de suprimentos também é fundamental, por meio de documentos de orientação, cartas de valor social, treinamentos e engajamento contínuo com os contratados.
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