Em outubro de 2016, vivenciei em Quito a adoção de uma nova agenda urbana na Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III). Na época, a 14 anos de alcançarmos o marco da Agenda 2030, já se propagava o senso de urgência nesta temática.
O tempo correu e o déficit habitacional no Brasil não melhorou, aliás piorou, segundo estudo anual da Fundação João Pinheiro, divulgado em março, com dados anteriores à pandemia, que só agravou ainda mais este cenário.
Em diferentes graus, os centros urbanos brasileiros foram tomados por tal realidade que se impõe nos faróis, praças e calçadas e nos lembram diariamente o quão cruel é a desigualdade social atual e histórica no Brasil. Como exemplo, cito o censo da Prefeitura de São Paulo, divulgado em agosto desse ano, que indicou um crescimento de 31% da população de rua na maior cidade do país nos últimos dois anos, chegando a 32 mil pessoas. No Brasil como um todo, dados do Cadastro Único de julho registraram mais de 197 mil pessoas em situação de rua.
Sabemos que a pobreza é um fenômeno social multidimensional, portanto sua superação depende da elaboração de programas em áreas diversas como educação, geração de emprego e renda, saúde, melhoria das condições de moradia e tantos outros, além de sua articulação voltada à redução da desigualdade.
O investimento social das empresas e de institutos e fundações empresariais está atento à pauta e vem diversificando sua atuação por áreas sociais e públicos-alvo em direção à agenda de combate às desigualdades.
Na divisão por públicos-alvo, a Rede BISC ampliou a participação em projetos para a população negra, mulheres negras, trabalhadores informais, vítimas de violência, entre outros, além de manter participação importante em projetos para comunidades do entorno, pequenos empreendedores, crianças e adolescentes, etc.
Dados da Pesquisa BISC para os últimos anos revelam que além das empresas apoiarem de forma relevante áreas como Educação, Emprego e Renda, Capacitação Profissional, entre outras, aumentou consideravelmente o desenvolvimento de projetos em áreas como Assistência Social, Segurança Alimentar e Moradia/Habitação, duramente atingidas pela pandemia, também relevantes para o combate às desigualdades.
E um exemplo de atuação do investimento social privado (ISP) no segmento habitacional é a boa prática que é destaque, este mês, na Rede BISC a respeito da iniciativa Reforma que Transforma, maior ação social da história da Gerdau.
O exemplo acima está alinhado a características do ISP fortalecidas, durante a crise sanitária. Por um lado, a pandemia realçou ao mesmo tempo o problema e os efeitos da desigualdade e a importância do setor privado e da sociedade civil em endereçar desafios de ordem pública. Por outro, o avanço da agenda ESG* e do capitalismo de stakeholders coloca as empresas na direção de alinharem a geração de impacto social positivo ao negócio e à sua atividade operacional.
*A sigla ESG vem do inglês (Environmental, social and Governance) e refere-se ao equilíbrio dos aspectos ambiental, social e de governança na gestão dos negócios de uma empresa.
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