Este editorial segue repercutindo os resultados da pesquisa BISC 2022, desta vez abordando a ampliação da importância das parcerias na agenda social corporativa revelada pelos dados, cuja íntegra será publicada nas próximas semanas no relatório completo da pesquisa.
A Rede BISC realiza a condução de seus investimentos sociais de forma muito diversa, havendo parcela relevante que atua no financiamento de projetos de terceiros, como organizações da sociedade civil, e outra parcela importante que conduz através da execução de projetos próprios. A segmentação dos dados pela natureza jurídica do investidor social corporativo revela que a maior parte do ISC aplicado diretamente pelas empresas tem caráter financiador de terceiros, postura que se intensificou em 2021, pois o percentual de empresas que declararam ter este perfil saltou de 54% para 80%, enquanto se reduziu o percentual de empresas que se diziam igualmente financiadoras e executoras. Uma possível interpretação é que as empresas focalizaram suas estratégias, já que as atividades de financiar terceiros e executar projetos próprios exigem capacitações distintas das equipes sociais, apesar de sinérgicas em algum grau.
Os institutos e fundações da Rede BISC, por outro lado, seguem papel principalmente executor de projetos próprios, resposta de 63% destas organizações, em linha com a maior expertise acumulada nessas organizações para a formulação e a implementação de projetos sociais. No entanto, os últimos dados revelam um movimento de aumento da diversidade de estratégias, passando a ter relevância o papel de institutos e fundações também como financiadores de terceiros.
A relevância das parcerias na agenda social corporativa também é medida pelo percentual do ISC dedicado aos aportes à sociedade civil organizada. Considerando a mediana dos respondentes da pesquisa BISC, o volume de recursos destinados à sociedade civil representou 63% do ISC em 2021, percentual próximo ao de 2020 (66%), quando houve intenso apoio às ações de enfrentamento à crise sanitária, e bastante superior ao patamar pré-pandemia de 2019 (24%).
O BISC também levantou dados qualitativos para captar as perspectivas dos investidores sociais corporativos para a evolução das parcerias com as organizações sociais. Os dados revelam que as prioridades mais altas de apoio são para organizações que desenvolvem atividades alinhadas aos negócios, seja em projetos próprios destas organizações ou desenhados pela empresa ou instituto/fundação. Também se verificou que a priorização da atuação social direta das empresas é mais focalizada nas organizações acima e naquelas sediadas no entorno dos empreendimentos econômicos. Os institutos e fundações, por sua vez, concedem alta prioridade para uma gama mais diversa de organizações, como aquelas que têm expertise em suas áreas de atuação, envolvidas com políticas públicas, de advocacy e fundações e institutos comunitários.
Por fim, no esforço da pesquisa BISC de seguir como referência na antecipação de tendências, também consultamos as empresas e seus institutos e fundações acerca dos fatores que mais poderiam contribuir para fortalecer a atuação conjunta com as organizações sem fins lucrativos nos próximos anos. A Rede BISC entende que as parcerias serão fortalecidas quanto mais a sociedade civil organizada for capaz de fornecer evidências de seus resultados e impactos e à medida que cresce o entendimento de que as corporações precisam atuar em rede, bastante em linha com a capacidade e legitimidade das organizações sem fins lucrativos na atuação em causas públicas e em programas e projetos.
*Texto escrito por João de Morais, coordenador de Projetos do BISC
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